quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Cabo das Tormentas


Com a devida Vénia= foto do Blogue Olhar o Passado Paquete Vera Cruz no dia do Baptismo

Com a devida Vénia a Joaquim Santos



A foto confirma os danos sofridos no Paquete Vera Cruz

Pesadelo em Alto Mar
Depois de muitas horas de pesquisa, finalmente consegui encontrar uma prova que atesta a veracidade do testemunho abaixo escrito, não só importante para aquele que é relatado pelo Manuel Cardoso, como para o Alferes Andrade, da Companhia de Caçadores 2358 que deu à revista "Notícias Magazine e publicada em 31 de Maio de 2002", a qual espero permissão do Autor para a divulgar aqui no Blogue, dando desde já total liberdade ao Autor do Blogue Olhar o Passado, da responsabilidade do Senhor Joaquim Santos, caso pretenda algo do que relata o testemunho, que disponha livremente.

Fala a sabedoria popular:-


Que não há duas sem três, e "que até ao lavar dos cestos é vindima"


Depois do trágico naufrágio, das patrulhas e das várias deslocações arriscadas, longe de mim pensar outra coisa, que não fosse o regresso calmo e onde poderia recuperar do trauma no aconchego da familia. Terminada a Comissão, quando nos informaram que a viagem teria lugar no Paquete Vera Cruz, dado a sua enorme categoria, pois sabendo tratar-se de um dos mais seguros e luxuosos paquetes de todos os tempos, fazia acreditar que teriamos uma viagem sem sobressaltos, fiquei feliz e a pensar que poderia recuperar, do trauma que me perseguia e seguramente iria aumentar, ao relembrar e sentir ainda mais a falta dos camaradas que por lá ficaram do trágico naufrágio a que já fiz alusão.
Acredito, que o mesmo pensamento, morava na mente daquelas cerca de seiscentas criaturas, a grande maioria por outras razões, e por outros casos que consigo tenham ocorrido.
Puro engano.
Embarcamos no Porto da Cidade da Beira,mas eis que na madrugada de 26 de Maio pelas 4h20m, estando a navegar frente ao cabo Morgan, antes de atingir o cabo das Tormentas, começa a levantar-se uma forte ventania o que provoca uma forte ondulação. De repente duas ondas sismicas desencontradas, provocam um estrondo enorme, em que muitos caímos abaixo das tarimbas, onde dormiamos. Subi imediatamente do purão, para ver o que se passava.
Vejo que os marinheiros já estão com coletes de salvação vestidos, e que o navio aparentava ter a cabine destruída e a proa muito mergulhada.
Começamos a entrar em pânico indo para as baleeiras, pois parecia que o naufrágio era certo, já que o navio meteu muito àgua, o que demorou uma eternidade, a proa do navio a voltar à superficie e a voltar a manter a posição quase normal.


Com a devida vénia ao Autor do Olhar o Passado

Ilucudativo= Vidros totalmente partidos na cabine do Vera Cruz
Com os vidros da cabine todos partidos que teria talvez mais de 20 metros de altura do nivel da àgua.
O Comandante , apercebendo-se dos estragos, entendeu que o navio estava impossibilitado de continuar viagem,, pediu para regressar a Lourenço Marques, para um reparação que foi rápida e apenas a remediar, para que o Paquete conseguisse chegar a Lisboa, onde aí seria devidamente reparado.
Demorou uns seis dias, a colocação de uns remendos na Proa e no Comando, e lá seguimos viagem, a navegar a velocidade reduzida, tão reduzida, que uma viagem que no India ou no Niassa os navios mais lentos de todos, demorava em média 23 dias. Demoramos 25
Neste caso e em condições normais o Vera Cruz demoraria certamente metade do tempo.
Felizmente ultrapassei todos estes problemas e sou tenho consegui ser feliz, mas sem em momento alguma esquecer aqueles que lá perderam a vida. Feliz por sentir que ainda me mantenho vivo, e assim poder relatar estes testemunhos que são rigorosamente verdadeiros, sabendo que estou a contribuir, a ser mais um a ajudar a perpetuar a memória dos meus Camaradas, que perderam a vida no Rio Zambeze. Também recordar aquele que me salvou de com tenra idade, e juntamente com o meu Irmão António nos ter salvado do afogamento certo no rio Douro, pois na altura não sabia nadar e acordei para uma realidade que tinha de aprender a nadar, o que seguramente me valeu o salvamento do afogamento no rio Zambeze.
Não quero terminar sem recordar a memória do meu grande amigo Jardim, infelizmente que pereceu e o seu corpo nunca apareceu que em desespero gritava por mim que não sabia nadar e que como tal iria morrer, sem que eu nada possa ter feito, e ainda ter tido tempo para lhe ter dito que nada podia fazer.
Não era possivel fazer mesmo nada, a não ser para morrer também, era mesmo impossivel poder-se salvar alguém, e no meu caso que até nem era grande nadador.
Estejam onde estiverem estou de alma e coração com eles e assim continuarei até ao fim dos meus dias.
Autoria = Manuelo da Rocha Cardoso

Testemunho dado no Centro Recreativo e Cultutal de Sebolido



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