Tragédia no Rio Zambeze, Travessia de Mopeia para Chupanga 21/6/1969
Afundamento às 16horas e 57 minutos
Afundamento às 16horas e 57 minutos
A foto com a totalidade dos 46 sobreviventes
Testemunho de dois sobreviventes, escrito ainda em Moçambique no ano de 1969
Condutor =Manuel da Rocha Cardoso = Furriel João Manuel Alves Meireles
Tragédia Zambeze
Zambeze, lindo nome, que pôs Moçambique de luto, um nome dum rio que corre mansamente ou perigosamente, conforme determina o "Poderio", e que jamais apagará da recordação e da memória, demais de uma centena de camaradas que pagaram assim caro, com a sua própria vida, a ousadia de desafiarem o imponente Zambeze.
Mais uma página de sangue, uma página negra, foi escrita na história portuguesa, marcando o dia 21 de Junho, como um dia triste na vida Nacional-Portugal, especialmente em Moçambique, está assim enlutado e vestiu a tradicional capa negra, deixando os rostos de todos transparecer uma máscara de desolação, de desgraça, de horror, de choro, e de todas essas tristes máscaras que marcam as fisionomias humanas, em ocasião de desgraça.
Na foto, na segunda Fila a seguir aos dois negros, está um branco, e a seguir é o Furriel Meireles, que juntamente com o Cardoso escreveram o testemunho já lá vão quarenta anos. O Furriel Meireles está encostado ao Poste que sustenta a cobertura, tem o casaco desapertado, está com Tshert preta.
Foram em Moçambique, assim ceifadas cento e duas vítimas, jovens ainda na flor da idade, exuberantes, possantes de juventude e que, emergendo a tradicional Farda Verde, mais se uniram por ela, sem distinções de raças ou medos, lembrando apenas que todos nascem à sombra da bandeira verde-rubra.
Nós somos apenas dois desses pobres sobreviventes, da cerca de meia centena a quem, felizmente, foi concedida a graça divina de nos podermos salvar, de podermos agora escrever como memória estas pobres linhas, testemunha muda de tal impacta travessia, marcada pela morte.
Seis dias estivemos nós à espera dela, na margem direita do Zambeze, seis dias levou ela a preparar a horrivel tragédia para apanhar nas suas garras, e levar então consigo cento e trinta e três incocentes vidas, inocentes jovens, irresponsabilidade de quem de direito afinhava conhecedor daquilo que fazia.
Enfim - chega o maldito dia
Primeiro=
Quando há um naufrágio aqueles que não sabem nadar,muito difícilmente largam aquilo a que se agarram. Na circunstância, o militar que segura orgulhosamente a viola, tendo sido ela que lhe salvou a vida, pois não sabia nadar. Tinha o pregamoite e fecha cler, o que não deixou entrar àgua e assim o manteve à superficie e a corrente da àgua o levou até um banco de areia. Sorte diferente teve o seu dono, um Furriel que vivia na Cidade da beira e se afogou, tendo sido o último cadáver a aparecer passado trinta dias e altura em que sessaram as buscas.
Na segunda fila de pé, do lado esquerdo segura apertadamente a sua querida Jarrique ( vidão em chapa, tipo agora as latas quinze litros), que tal como a viola terá sido o principal responsável pelo salvamento.
TESTEMUNHO DE DOIS SOBREVIVENTES
A tarde estava calma, decorre mesmo com animação, pela ansiosa travessia. Afinal a travessia irá ficar célebre, irá mesmo ficar recordada para sempre na mente de todos os portugueses, especialmente das familias dos vitimados, que choram agora tão triste fim dos seus entes queridos sejam eles filhos, irmãos, maridos ou noivos.Segundos apenas, breves segundos, bastaram para que o monstro de ferro se afundasse, levando homens e máquinas, que rapidamente foram tragados pelo furioso Zambeze, como que em paga enviando um holocausto castigador, condenando a ousadia humana de atravessar o maior rio de Moçambique.
Ainda estão gravadas na memória, e sempre estarão gravadas na memória, os gritos, lamentos e choros de tanta gente. Quando a tragédia se declarou, começaram a atirar-se à àgua lembrando em aflitivos gritos, os irmãos, mulher, mães, etc.
Esses gritos pareciam tentar que isso servisse de tábua salvadora, pareciam provar neles auxilio precioso na tragédia em que as garras da morte já pendura nas suas infalíveis tenazes dos primeiros rapazes. Repentinamente, sentimo-nos agarrados por mais de uma dúzia de mãos e ouvimos perto gritos de auxilio e pedidos de socorro, mas ao cair na água parecemos acordar desse sonho, e a realidade aparece nua e crua, horrivelmente acusadora da tragédia que teve lugar nesse maldito rio, da catástrofe que meço melhor ao afastar-me e voltar a cabeça para trás, numa tentativa última, vá, de poder auxiliar talvez alguém. Para quê? Perguntamos a nós mesmos... apenas para recordar sempre tão horrivel quadro. Tão desoladora cena, que por mais anos que vivamos, jamais poderemos apagar das nossas mentes aquela altura traumatizada pelo hecatombico quadro. Como que impelido por uma força sobrenatural, uma força do além, sentimo-nos lançados em energias que desconheciamos em nós próprios, nadando em busca de um abrigo para um exausto corpo, e assim nadamos... nadamos... nadamos..... Aparece-nos rapidamente a noite, a envolver-nos assim como aos militares que de certo estarão aí perdidos e parecem-nos até que é uma preciosa anuência desse maldito rio, pois que aparenta querer correr a sua vinda, mais vidas ceifar por essas ilhas fora, com a vinda consequente do frio dela, actuando nos exajustos corpos dos Jovens que desesperadamente lutam por esse rio abaixo.
Repentinamente, já noite cerrada, sentimo-nos atirados quase por milagre do Senhor para uma ilha, onde até o silêncio assusta, tendo apenas a água a quebrá-lo, perturbando assim a apática natureza que a toda esta tragédia permanece indiferente, extenuados, sentimo-nos e vemos, então a morte de tão sós que nos encontravamos.
Foste tu, Zambeze, o primeiro a amedrontar-nos nesta comissão que fomos mandados cumprir em Moçambique. E que apesar do medo que nos metes continuamos a cumprir a comissão que nos foi confiada.
Sem mais terminámos este quadro triste que sempre ficará em memória de nós, sobreviventes, e de todo o Povo Português, porque assim "Deus Divino" e "Nossa Mãe Santissima" nos abençoaram.
Zambeze 1969
4 comentários:
A Ponte!
Ponte... que és passagem
Que encurtas distâncias
És também a mensagem
Para novas esperanças!
Ponte... novo caminho
Para outro horizonte
És também um pergaminho
De hoje e não de ontem!
Ponte...que levas amizade
Aquém e além do rio
Mas também deixas saudade
Se inverteres o teu feitio
Ponte... de amor
Ponte... de carinho
Ponte... de louvor
Se não deixares ninguém sozinho
Ponte... da desgraça
Que unes duas margens de terra
Onde morreram numa barcaça
Os nossos colegas de guerra!
Ponte...quem diria
Inaugurada na euforia de alvoroço
Se fosses ponte naquele dia
Evitavas tanto desgosto...
Ponte...das omissões
Dos governantes de então
Ponte... dos mil perdões
Destes governantes sem perdão
Ponte... de famílias
Ponte... de namoradas
Ponte... de noivas aflitas
Ponte ... das esposas malfadadas
Ponte de jovens militares
Ponte de tantos gritos e ais
Ponte... de familiares
Ponte... de órfãos e de pais
Ponte... de tanta agonia
Ponte daquele rio infernal...
Zambeze na tua fúria desabrida
Enlutaste o nosso Portugal
Olá Amigo
Permite que te louve o excelente trabalho. Para mim fabuloso. O Manuel Cardoso vai adorar.
Gostava de pedir-te o seguinte:
Não ttenho essa capacidade de escrever, apenas rimando umas quadras. Mas apenas um sugestão se onde fala de ponte metesses num outro poema mesmo igual sem me retirares esse do Comentário não seria espectacula. Qudero pedr-te que me autorizes a publicar no Blogue, onde vou acima colcar-lhe uma ou duas fotos, já que é vontade minha se aurorizares púlicar este original e a outra versão.
Aguardo a tua resposta. Aquele abraço
Olá meu grande amigo
Desculpa tratar-te assim
Podes contar sempre comigo
Naquilo que dependa de mim
Falando ainda da ponte
Podes publicar à tua vontade
Pois considero uma santa fonte
Esta nossa forma de amizade
Vou pensar no que me pedes
E ver se disso sou capaz
Tentarei dar notícias breves
Porventura, duma forma audaz
Há em nós uma ansiedade
De pôr isto em pratos limpos
Que todos saibam a verdade
E se abram todos os trincos
Contudo, na nossa memória
Já se nota algum cansaço
Valdemar,com esta história
Mereces bem um abraço...
Estou inteiramente ao teu dispor!
Fico Feliz e Contente
Saber que não estou sózinho
Tenho-o gravado na mente
O nome de Agostinho
II
Por uma forte razão
Do coração não me sai
Tratarei-o com muito amor
Porque ser o nome de meu Pai
III
Os versos que escreves-te
Jamais se poderão perder
Vão ajudar essaas vitimas
A menos ter de sofrer
IV
Rconheço o teu trabalho
Sinto-me mesmo orgulhoso
Passa bem filho da Escola
E grato em nome do Cardoso
Um abraço e até sempre
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