terça-feira, 10 de novembro de 2009

O Sargento Tanso!

Houve uma altura em que pegaram naqueles cabos Manobras antigos e fizeram-lhe um curso (para não dizer, deram-lhe o curso) para os poder promover a sargentos. Acontece que eram manobras e como tal tansos (termo que usávamos para os manobras e artilheiros) ou seja, eram os que piores resultados tinham tido nos testes. Quando os mandavam escolher uma de tantas especialidades já se sabia qual o destino que levariam. Estava embarcado na Fragata «Diogo Cão» e um belo dia, estava eu de rancheiro e a descascar batatas quando um desses sargentos feitos à pressa me perguntou o que eu fazia na minha terra. Respondi-lhe que era pescador e mineiro. Então ele fez-me algumas perguntas e depois mandou-me ter com ele á Messe. Começou por me dizer que tinha sido Pescador na Póvoa e que não tinha vindo para a Marinha aprender a fazer nós nem fazer mãozinhas, mas sim aprender a ler e a escrever. Mandou-me para Junto do Clarim para polir e pintar o Sino de bordo. Isso deu para andar ali umas três semanas quando, num ritmo normal, dois dias seriam mais que suficientes para fazer aquilo.
Então e a linguagem que ele usava quando chamava alguém pela instalação sonora:
- Atençom praças! O Grumete Rederista que eu sei que não é Manobra apresente-se a mim, onde é que estou.
Acabava de falar e ia-se embora.
Quando o procurávamos, fazíamo-lo passado meia hora ou mais. Se fosse para castigo perguntava o número. Só que nós sabíamos que ele não sabia escrever muito bem e não memorizava o número se o disséssemos rápido demais. Dizíamos 19518 rapidamente e ele insistia para que falássemos devagar, só que cada vez nós o repetíamos mais rápido ainda.
Um belo dia estávamos de serviço á Aviação e fomos para Manobras uma semana para o Cabo Espichel, Sesimbra etc. Era a Feira das Indústrias, em Setúbal, o que era uma maravilha. Ele foi até lá, no Domingo, e comprou um livrito de cowboys da colecção «Sete balas» (dava, no máximo, para uma hora de leitura).
Para o ler esteve essa semana toda sem sair de bordo, e quando regressamos, na sexta-feira ele continuou e só saiu no sábado á tarde, quando terminou a leitura do livro. Para quem tinha andado tantos anos a aprender a ler e escrever, não estava nada mal!
Um estudioso exemplar, hein?.

2 comentários:

Luis Filipe Silva disse...

Não tem nada a ver mas não sei outra maneira de te contactar. Eu sou o ex Mar C Fze 629/67 e estive em Moçambique entre 69 e 71.
Deu-me a impressão pelo que li que tambem lá estiveste por essa altura.
Para contactos: luisbsilva@net.sapo.pt
http://dfe9.blogspot.com/
Abraço
Luis

Valdemar Marinheiro disse...

Olá Filho da Escola eu estive e Metangula de 68 a 7o e em Nampula de 7o a 72 e dois.
Sabes eu tenho alguma dificuldade de momentorecordar todos os nomes, pois como sabes eramos muitos e todos amigos. Pertencias ao DFE9 . Pergunto eu. ÇPOdes contactarme pelo valdemarmarinheiro@hotmail.com
Um abraço do Tamanho do Lago Niassa.Aguardo mais detalhes. Fazia parte da Equipa de Futebol de Salão. dá dicas.