segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Missão Honrosa

Marinheiros = A Pátria Honrai 
Um  dos Vasos de Guerra Inglês ao Largo do Porto da Beira
Sobre o Bloqueio à Rodésia na Beira em Moçambique
1ª = Etape 
Decorria o ano de 1965, o governo inglês dirigido por Harold Wilson decidira entregar o governo da Rodésia do Sul à maioria negra; tal como o tinha feito na Rodésia do Norte (Zâmbia) e com  Nyassaland (Malaui).
     Mas a população branca residente na Rodésia do Sul, cerca de 250 mil colonos, decidiu que Ian Smith seria o primeiro ministro de uma Rodésia independente, governada por brancos, à semelhança do que acontecia na África do Sul, país que imediatamente apoiou a iniciativa.
     Pouco tempo depois, o governo inglês enviou para o Índico uma Task Force constituída por um porta-aviões, três fragatas e navios de apoio, num total de nove navios. A missão dessa força militar era desembarcar na Beira, porto marítimo e principal via de abastecimento e de escoamento de produtos da Rodésia, e de seguida rumar àquele território para impôr pela força a aceitação de um governo negro.
    Por essa altura os hoteis de Moçambique e da África do Sul encheram-se com as mulheres e crianças idas da Rodésia, onde apenas ficaram os homens, em armas e dispostos a tudo para manter o governo de Ian Smith.
    A entrega da Rodésia à maioria negra iria abrir uma nova frente de guerra no distrito de Manica e Sofala, bem como na fronteira sul de Tete. Sem pensar duas vezes, deu ordens às forças portugueses aquarteladas na Beira no sentido de impedir o desembarque dos ingleses. Nessa altura foi reactivada a bateria de costa da Beira, constituída por 3 peças fixas Krupps, se não estou em erro de 150mm, localizadas no bairro das Palmeiras. Foram deslocadas para a foz do rio Pungué várias peças de artilharia móveis e o terraço do Grande Hotel serviu de base a diversas peças de artilharia anti-aérea. Em poucos dias a cidade da Beira fortificou-se, preparando-se sem hesitações para resistir a um ataque dos ingleses. A frota inglesa, mesmo assim entrou nas águas territoriais nacionais, supondo que os portugueses não lhes fariam frente. Sairam ao seu encontro 2 T-6 Harvard, que dispararam algumas rajadas de aviso para a água, em frente à esquadra inglesa. Aí os ingleses perceberam que a ocupação da Beira, onde queriam estabelecer uma testa de ponte para atacar a Rodésia, não ia ser pacífica.
    Possuíam naquele momento forças suficientes para derrotar os portugueses, quer em homens, quer em aviões, mais de meia centena de caças bombardeiros contra alguns T-6 Harvard e PV2 Harpoon, que seriam facilmente abatidos por serem aviões lentos, quer em poder de fogo por parte das peças de artilharia das fragatas.
 Apesar da desigualdade de forças, em momento nenhum os portugueses pensaram em virar as costas ao combate.
    Várias pontes da estrada de 300km que ligava a Beira à Rodésia foram armadilhadas pelas forças portuguesas, que tinham ordens para as destruir em caso de desembarque inglês.
    Harold Wilson decidiu suspender o ataque que iria opôr os aliados de séculos, percebeu que Salazar não permitiria o desembarque..
    A frota inglesa regressou a águas internacionais onde iniciou um bloqueio naval a todo o tráfego que rumava à Beira. Apenas passavam os navios com mercadorias de e para Moçambique. Os que traziam abastecimentos para a Rodésia eram impedidos de entrar no porto da Beira. Em pouco tempo o dispositivo militar foi reforçado em terra. De Portugal e de Angola chegaram aviões de combate Fiat G91 e F84, para além de peças de artilharia. 
    Deu-se então o episódio do petroleiro grego Ioana V, de 12.000 toneladas, carregado de crude para a refinaria de Untali. Os ingleses tinham decidido paralizar a Rodésia de Ian Smith por falta de combustíveis.
      Na Beira estavam dois navios Avisos  (penso que um  era o  aviso Bartolomeu Dias)
    Os Ingleses foram impedidos de desembarcar. Deveu-se à oposição das Forças Armadas e dos Civis.
2ª Etape
Vencida a primeira etape logo Salazar deu o dito por não dito e, rebaixando-se à coroa inglesa mandou o Iona V abandonar o porto da Beira sem desembarcar o crude, o navio saíu com destino a Durban: Mas acabou por alterar o rumo e aportou a Lourenço Marques; porto não vigiado nem bloqueado aí o navio descarregou o crude, que foi transportado de comboio para a Rodésia, fazendo crer aos Ingleses que o crude se dirigia para a África do Sul.
O meu Grato Reconhecimento ao Carlos Branco e ao Manuel José pela colaboração.
A Inglaterra com os seus navios controlando a entradas do rio Pungué, onde se deram incidentes com navios que desejavam descarregar crude, como o Joana V e o Manuela.
Perante as notícias que os ingleses estariam a fazer desembarques de tropas levou a que a Companhia de Paraquedistas que se encontrava em Lourenço Marques seguisse para a Beira.
     Passados os momentos iniciais o bloqueio entrou na rotina, com os navios de guerra a trocarem mensagens.
A opção de apoiar a Independência da Rodésia foi tomada por Salazar a quem Ian Smith pediu apoio.

5 comentários:

Anónimo disse...

Camarada Marinheiro
No porto da Beira, só estiveram sediados Avisos de 2.º classe e mais tarde Fragatas,nunca existiu Draga Minas,os ingleses não foram vencidos,só foram impedidos de desembarcar,o recuo de desembarque dos ingleses deveu-se á oposição das forças armadas e dos civis Portugueses, que em estado de prontidão se preparavam para a guerra com os ingleses,Salazar depois de vencer a primeira etape deu o dito, por não dito e rebaixando-se á coroa inglesa mandou o Ioana V abandonar o porto da Beira sem desembarcar o crude,o navio saiu com destino a Durban.Mas acabou por alterar o rumo e aportou a Lourenço Marques,porto não vigiado nem bloqueado,ai navio descarregou o crude que foi transportado de comboio para a Rodésia,fazendo crer aos ingleses que o crude se dirigia para a África do Sul.
O bloqueio ao Porto da Beira só terminou com a independência de Moçambique,mas os acordos que foram feitos nesse sentido entre os ingleses,Samora Machele e oficiais da Marinha Portuguesa,ainda são secretos,um dia saberemos o porquê da submissão de Samora Machel aos ingleses que nunca suportaram os negros.
António José

Valdemar Marinheiro disse...

Agradeço a oportuna ilucidação. Durante quatro anos acompanhei esse bloqueio ao pormenor porque tinha acesso a essa documentação, mas como comprenderá com o passar dos anos as coisas vão-se apagando.
Não percebi o que lá estaria a fazer um,Draga Minas. Naveguei neles sei o que isso é.
Mas como foi um Amigo m nascido em Moçambique e, que com onze anos acompanhou, visitando a Beira e a parte onde estavam localizados os Ingleses, pelo que o trabalho como o camarada refere está com erros. Penetencio-me; mas não resisti a lhe prestar essa homenagem e vou procurar corrigir o que está errado, consultando logo que me seja possivel documentação. Obrigado e se alguma coisa mais houver a corrigir agradeço. O que me move é os anos maravilhosos que lá passei e a paixão e amor que continuo a sentir.
Um Abraço

Anónimo disse...

Com ou sem draga-minas, vai contando estes acontecimentos, que quem como eu não passou por eles, gosta de saber o que se passou nesses anos de guerra, no Além-Mar.
Um abraço
Virgilio Miranda

Anónimo disse...

Em 1970, eu prestava serviço no Comando Naval de Moçambique em Lourenço Marques, mais precisamente no centro de comunicações onde tudo o que era mensagem, muito secreta, secreta, confidencial ou outras, era ali processada e reenviada aos respectivos destinatários. Lembro-me de que havia uma que chegava diariamente vinda do comando de Nampula que, depois de descodificada pelo sistema adónis, era novamente codificada em sistema diferente e enviada para o Comando Naval do Continente. Essa mensagem continha apenas a posição de dois navios, as respectivas coordenadas e os nomes das embarcações. Não me lembro dos nomes mas sei que se encontravam ao largo da Beira, fora das águas nacionais e ali continuaram pelo menos até 1973, altura em que terminou a minha comissão de serviço.
Aquilo seria supostamente um bloqueio mas em bom rigor pode-se duvidar visto que a maior parte das mercadorias desembarcadas em Moçambique, eram estivadas em L. Marques. Depois seguiam em navios de cabotagem para os diferentes portos situados ao longo de toda a Provincia. Lembram-se do Angoche? Era um desses navios que percorria a costa...

Eduardo disse...

Posso só precisar que as peças de artilharia, estavam na praia da Ponta Geia e não das Palmeiras. Se não me engano, estava um pelotão do exército na ponte do Pungué que ficava a 54 km da Beira. A Linha do caminho de ferro, Beira Rhodésia do Sul, na zona da Manga, tinha uma equipa de 5 homens páras, acampados junto da fáfrica Algodoeira, conhecida como Textil do Pungué.