marinheirododouro.blogspot.com = A evolução da Familia
A arrepiante denúncia do que foi o Tarrafal
= A Frigideira=
E tenebroso também era o uivo que Esmeraldo Pais Pratas, o médico de lá, lhe juntava: « Não estou aqui para curar, mas para assinar certidões de óbito.» Dois anos passados, descobriu-se que Manuel dos Reis roubava bens que os familiares dos presos lhe mandavam, vendendo-os numa cantina que montou -e foi exonerado, substituído por João da Silva que fizera tirocínio nos campos de concentração nazis.
Diabólica, a sua primeira criação: a Brigada Brava - grupos de presos obrigados à abertura de valas em morro rochoso «onde cada pancada de picareta se sentia na nuca de quem dava e feria mais os nervos e os músculos do que a pedra dura». A cavar o dia inteiro, sob temperatura de 40 graus, sem poderem levantar a espinha por um instante, beber`´agua ou urinar mais do que uma vez, proibidos até a perder tempo a enxugar o suor».
As botas sem solas, as fardas às tiras - «os vincos de martírio cavados no fundo dos rostos esquálidos, de tom baço da cor típica do paludismo.
Pareciam figuras de cinema. Trágicas. dramáticas...».
E pior ainda a Frigideira, estreada em Agosto de 1937. Que Cândido de Oliveira descreveu assim: « No interior, nada. Apenas as paredes e o chão de cimento armado, nu e agressivo. Nem cama, tarimba, enxerga ou tristes palhas para o preso dormir. Nem janelas, nem luz artificial. Quatro paredes e um baço fio de luz coado pela pequena fresta gradeada que encima a porta de ferro e por onde entra o bafo quente dos trópicos e, durante a noite, o mosquito do paludismo.
Das 10 às 16 horas, o sol ardentissimo, concentra no interior temperatura que deve oscilar entre os 40 e os 60 graus. Um verdadeiro forno crematório...»
Quem lá estivesse recebia por dia um pão e uma sopa com três ou quatro feijões no fundo. Não havia banho, apenas uma bilha de água suja para matar a sede e uma lata sem tampa para os dejectos.
Houve quem lá estivesse 70 dias, quem lá morresse....
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