quinta-feira, 12 de agosto de 2010

"Justiça de Fafe" =Selar o Negócio com Merenda. = Velho uma Ova.

A Corneta Ancestral na Aldeia da Ermida = Link = terrasriomar.blogspot.com

ESPINHO PEIXE DO NOSSO MAR = Link = marinheirododouro.blogspot.com

"Justiça de Fafe" = Bem precisava hoje de ser aplicada.
Geralmente, o negócio, quando entre pessoas conhecidas, era selado na barraca mais conhecida, com uma boa isca de bacalhau frito, um naco de broa, ou um pedaço de rosca tostadinha e saborosa e indispensável caneca de tinto vermelhinho e encorpado que escorregava deliciosamente pela garganta e era capaz de dar vida a um morto.
  Eram assim os negócios desses tempos em que a franqueza e a seriedade constituíam a melhor garantia da lisura com que tudo era combinado.
     Também por vezes vinham à baila velhas questiúnculas, pois havia quem aproveitasse estes ajuntamentos para esclarecimento de antigas contas.
     Acontecia então que os ânimos podiam azedar-se e os artistas de pau entendiam que ele seria a melhor arma para tirar as coisas a limpo.
     Os bons caceteiros,  que faziam do marmeleiro companhia inseparável, não estavam com meias medidas.
     Ouviam-se pelos ares palavrões de bico amarelo e gritos aflitivos de mulheres assustadas.
     Varria-se a feira à bordoada e tudo acabava sem a Guarda ter de intervir.
     Apenas umas ligeira amolgadelas no costado e raras vezes o sangue corria.
      Era a "Justiça de Fafe".  Mais prática, mais oportuna e mais certeira que hoje.
      Era lindo apreciar como as pessoas livres de preconceitos, se sentavam em toscos bancos de tábuas corridas à mesa longa e coberta de toalha de riscado aos quadradinhos para saborearem a tal ísca de bacalhau que frigia no tacho ao lado, acompanhada por bom naco de regueifa, tudo regado pela pinga saída da pipa a espirrar na caneca branca de porcelana, às vezes já com uma asa substituída de folha Flandres.
     Espero que tenham gostado da merendola, mesmo sem a ter provado.

2 comentários:

Piko disse...

Esta volta ao passado faz bem e por vários motivos, que qualquer ser humano consegue ver.
Se o actual ser humano começou a ser ensaiado há pouco mais de cem mil anos, relembrar a sua forma de vida e de sobrevivência há cinquenta e sessenta anos é como se fosse ontem!...
Para aqueles que preferem ter uma memória limpa no essencial, será até um bom exercício, relembrar pais e avós, que tinham fibra para dar e vender, também se assim não fosse, nós nem estaríamos aqui, uma boa parte de nós, pelo menos, porque fácil, fácil não foi...
Claro, que há ainda uma boa fatia de nós, do nosso tempo de miúdos, que nem querem relembrar, cruzes, canhoto, e porque será?! Sim, porque será, se vieram dos mesmos ambientes, meia sardinha das grandes na refeição da noite, uma cama para quatro e cinco, umas botas para ir à missa aos domingos, sim porque no resto da semana andava-se descalço e por aí fora!... Também é bom que se diga, que a liberdade de andar por todos os recantos da Natureza, da qual fazíamos parte, sem que soubéssemos na época, ajudou muito, para que hoje tenhamos uma visão mais global e humana se quisermos, de que os rios e o ambiente que suportaram as nossas traquinices ainda estão aí, que devem continuar a ser respeitados e essa mensagem que trazemos gravada e viva até ao fim, deverá ser conhecida e deitada cá para fora, como um grito de alerta e respeitando a memória dos que nos antecederam e que na sua santa ingenuidade nos passaram esses valores através de uma prática diária, onde só faltou a pedagogia verbal! Mas, como a poderiam dar se não a tiveram?!...
É sempre fácil criticar quando se inviabiliza o raciocínio...
PIKÓ

Piko disse...

E continuando...
Porque se não quer raciocinar?
Os motivos encontrados e sem respeitar uma ordem que também nem existirá, teriam sido de vária ordem, mas seguramente que a ambição desmedida quase enlouqueceu estes filhos de gente séria, para quem a palavra de honra, quando aplicada, valia por uma escritura no notário, ou era o seu equivalente!
Mas, Camões já teria passado por tempos conturbados com outros humanos, do seu tempo, quando passa a escrever para a posteridade:
« Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades!»
Não é de crer, que tenha sonhado, antes terá levado por tabela uns pontapés e caneladas, que na época não seria de bom tom chamar aos bois pelos nomes... Sim, porque com as descobertas, alguém ganhou poder e usufruiu dele, e, não foi só a Pátria, que é uma coisa abstracta e engloba poderosos e desgraçados, que é uma mistura que nunca combinou bem e para atenuar um pouco, deitaram mão de uma religião, mais ou menos bem elaborada, para amainar as gigantescas diferenças, que já na época eram bem evidentes e pelo que se sabe, Camões morreu na Lisboa dos poderosos e na maior miséria...
A grande diferença, residerá no facto de nos nossos dias, serem muitos os pretendentes inconformados com pequenos quinhões e chegam a ser perigosos, porque se digladiam e desconhece-se até onde poderão ir para chegar do pódio!...
O capitalismo que poderia ser um bom sistema, capaz de gerar riqueza e fazer avançar a ciência, acaba por não sê-lo, porque cai nas mãos de gananciosos da pior espécie e passa a ser apelidado de capitalismo selvagem, precisamente por seus adeptos insuspeitos, basta citar um apenas no plano interno: Mário Soares.
A coisa agrava-se bastante, porque a esta gente insaciável, se veio juntar uma multidão, um bom punhado deles até andou connosco nas escolas primárias e técnicas e o sistema não consegue enriquecer tantas unidades, que se acharam com direito a banquetearem-se depois que Abril falhou e não mais pararam e ainda com um grave problema a juntar a tanto oportunismo, por serem criaturas que nada produzem e só consomem, sendo certo que até os automóveis que vaidosamente exibem terão que ser do topo de gama ou muito perto desse gabarito!
Por tudo isto, nós dizemos que o sistema vai ter pela frente problemas sérios para resolver, mas até lá, como não quer virar a faca contra si próprio, porque é um sistema que não é pessoa de bem, vai encurralando contra o muro o desgraçado do ordenado mínimo, o reformado de 30, 40 e 50 contos e até um dia...
Tudo isto, porque alguém deu roda livre a humanos, que quiseram inviabilizar o decente raciocínio ao cortar radicalmente com o passado de pais e avós e preferindo DESLUMBRAREM-SE com o regabofe que inesperadamente lhes caía do céu!...
PIKÓ