Em outro tempo havia gente que se encarregava de chorar a morte de outrem mediante uma combinada retribuição. Uma viúva para se não afastar do velho costume chamou uma vizinha e encarregou-a de chorar a morte do marido, recebendo do trabalho um alqueire de centeio.
Pôs-se logo a chorar e a gritar.
- Porque chora, senhora? Perguntou certo individuo que ía passando. Ela respondeu:
Estou a chorar
O marido alheio
Mediamte alqueire
De belo centeio
Não sei se meiado
Se calcado e cheio.
A viúva, que estava nessa ocasião a comer sopas com presunto, apareceu de boca cheia e pôs-se a saltar:
Há-de ser calcado
E bem cogulado
E ainda por cima
Um belo punhado
Com tanto que seja
Muito bem chorado.
E assim desafogou a viúva o seu contentamento pela morte do marido.
Hoje no nosso dia a dia encontra-mos tantas carpideiras e carpideiros. Mas lá diz o velho ditado que quem não chora não mama.
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