terça-feira, 9 de novembro de 2010

Cavaco Silva é Recandidato!!!


          Cavaco há 30 anos ligado ao poder!!!
     Cavaco Silva é recandidato. Foi ministro quando eu tinha 11 anos. Pode sair da Presidência quando eu tiver 46. Ele é o maior símbolo de tantos anos perdidos. E aqui se fala das suas cinco encarnações.
     Sem contar com a sua breve passagem pela pasta das Finanças, conhecemos cinco cavacos. Mas todos os cavacos vão dar ao mesmo.
O primeiro Cavaco foi Primeiro-Ministro
    Esbanjou dinheiro como se não houvesse amanhã. Desperdiçou uma das maiores oportunidades de deste País no século passado. Escolheu e determinou um modelo de desenvolvimento que deixou obra mas não preparou a nossa economia para a produção e a exportação. O Cavaco dos patos bravos e do dinheiro fácil. Dos fundos europeus a desaparecerem e dos cursos de formação fantasmas. O Cavaco do Dias Loureiro e do Oliveira e Costa num governo da Nação. Era também o Cavaco que perante qualquer pergunta complicada escolhia o silêncio do bolo rei. Qualquer debate difícil não estava presente, fosse na televisão, em campanhas, fosse no Parlamento, a governar. Era o Cavaco que perante a contestação de estudantes, trabalhadores, polícias ou utentes da ponte sobre o Tejo respondia com o cassetete. O primeiro Cavaco foi autoritário.
O segundo Cavaco
  Alimentou um tabu: não se sabia se ficava, se partia ou se queria ir para Belém. E não hesitou em deixar o seu partido soçobrar ao seu tabu pessoal -até só haver Fernando Nogueira para concorrer à sua sucessão e ser humilhado nas urnas. A agenda de Cavaco sempre foi apenas Cavaco. Foi a votos nas presidenciais porque estava plenamente convencido que elas estavam no papo. Perdeu. O País ainda se lembrava bem dos últimos e deprimentes anos do seu governo, recheados de escândalos de corrupção. É que este ambiente de suspeita que vivemos com Sócrates é apenas um remake de um filme que conhecemos. O segundo Cavaco foi egoísta.
O terceiro Cavaco
 Regressou vindo do silêncio. Concorreu de novo às presidenciais. Quase não falou na campanha. Passeou-se sempre protegido dos imprevistos. Porque Cavaco sabe que Cavaco é um bluff. Não tem pensamento político, tem apenas um repertório de frases feitas muito consensuais. Esse Cavaco paira sobre a política, como se a política não fosse o seu ofício de quase sempre. Porque tem nojo da política. Não do pior que ela tem: os amigos nos negócios, as redes de interesses, da demagogia vazia, os truques palacianos. Mas do mais nobre que ela representa: o confronto de ideias, a exposição à crítica impiedosa, a coragem de correr riscos, a generosidade de pôr o cargo que ocupa acima dele próprio. Venceu, porque todos estes cavacos representam o nosso atraso. Cavaco é a metáfora viva da periferia cultural, económica e política que somos na Europa. O terceiro Cavaco é vazio.
O quarto Cavaco
    Foi Presidente. Teve três momentos que escolheu como fundamentais para se dirigir ao País: esse assunto que aquecia tanto a Nação, que era o Estatuto dos Açores; umas escutas que nunca existiram a não ser na sua cabeça sempre cheia de paranóicas perseguições; e a crítica à lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo, que, apesar de desfazer por palavras, não teve a coragem de vetar. O quarto Cavaco tem a mesma falta de coragem e a mesma ausência de capacidade de distinguir o que é prioritário de todos os outros.
     Apesar de gostar de pensar em si próprio como um não-político, todo ele é cálculo e todo o cálculo tem ele próprio como centro de interesse. Este foi o Cavaco que tentou passar para a imprensa a acusação de que andaria a ser vigiado pelo governo, coisa que numa democracia normal só poderia acabar numa investigação criminal ou numa acção política exemplar. Era falso, todos sabemos. Mas Cavaco fechou o assunto com uma comunicação ao País surrealista, onde tudo ficou baralhado para nada se perceber. Este foi o Cavaco que achou que não devia estar nas cerimónias fúnebres do único prémio Nobel da literatura porque tinha um velho diferendo com ele. Porque Cavaco nunca percebeu que os cargos que ocupa estão acima dele próprio e não são um assunto privado. Este foi o Cavaco que protegeu, até ao limite do imaginável, o seu velho amigo Dias Loureiro, chegando quase a transformar-se em seu porta-voz. Mais uma vez e como sempre, ele próprio acima da instituição que representa. O quarto Cavaco não é um estadista.
E agora cá está o quinto Cavaco.
 Quando chegou a crise começou a sua campanha. Como sempre, nunca assumida. Até o anúncio da sua candidatura foi feito por interposta pessoa. Em campanha disfarçada, dá conselhos económicos ao País. Por coincidência, quase todos contrários aos que praticou quando foi o primeiro Cavaco. Finge que modera enquanto se dedica a minar o caminho do líder que o seu próprio partido, crime dos crimes, elegeu à sua revelia. Sobre a crise e as ruínas de um governo no qual ninguém acredita, espera garantir a sua reeleição. Mas o quinto Cavaco, ganhe ou perca, já não se livra de uma coisa: foi o Presidente da República que chegou ao fim do seu primeiro mandato com um dos baixos índices de popularidade da nossa democracia, e poderá ser um dos que terão sido reeleitos com menor margem. O quinto Cavaco não tem chama.
     Quando Cavaco chegou ao primeiro governo em que participou, eu tinha 11 anos. Quando chegou a Primeiro-ministro, eu tinha 16. Quando saiu, eu já tinha 26. Quando foi eleito Presidente, eu tinha 36. Se for reeleito, terei 46, quando ele finalmente abandonar a vida política. Que este homem, que foi o político profissional com mais tempo no activo para a minha geração, continue a fingir que nada tem a ver com o estado em que estamos e se continue a apresentar como alguém que está acima da política, é coisa que não deixa de me espantar. Ele é a política em tudo que ela falhou. É o símbolo mais evidente de tantos anos perdidos.

Daniel Oliveira (www.expresso.pt)
8:00 Terça feira, 26 de Outubro de 2010
Transcrevo de um e-mail com a devida vênia ao autor.

3 comentários:

Observador disse...

Não é os anos que leva de poder que me faz «bordoeja», pois há por cá muito disso, incluindo as Centrais Sindicais, onde parece que os lideres têm lugar cativo, mas a maneira como,tenta sempre, e parece que tem conseguido, esquivar-se a qualquer responsabilidade do que se tem passado.
Um abraço
Virgílio

Piko disse...

De facto mais coisa menos coisa é este o retrato do Cavaquismo que aqui está expresso e para mal nosso... Para mal nosso, porque as consequências vão agora começar a infernizar a vida dum grande número de portugueses que já estavam a braços com o desemprego. Então agora não há culpados? Ah, já estou a perceber, andam anos e décadas a decretar as suas incompetências, fazendo-se pagar princepescamente, mais as mordomias que vão distribuindo pelos amigos do peito, escondem dos compatriotas o estado da Nação, o que é grave em Democracia, e, vêm agora pedir, candidamente, o voto para a continuidade das políticas desastrosas? Só se fôssemos parvos ou imbecis? É claro, que os dois grupos estão bem identificados e se dúvidas houvesse, um ou outro, à boa maneira portuguesa, lá vai descaindo com uma ou outra quezília, mas quem esteve atento nestes trinta e tal anos, já não tem qualquer dúvida sobre estas clientelas, que de patriotas só têm o nome por terem nascido no mesmo país.
É por demais óbvio, que estes dois grandes grupos sugaram o país e vai ser muito difícil tirá-los do poleiro, porque já dominam praticamente tudo e acham que os portugueses lhes deram essa permissão... E será que não?
Que achas Valdemar? Deram ou não deram?!...
Um abraço do vosso amigo
PIKÓ

Edum@nes disse...

Será melhor o sexto?
Que o traidor desertor!
Para muitos manifesto.
Sem importante clamor!

Está cheio de rancor?
Por este aconselhar!
Não reconhece seu valor.
Nada o vai atrapalhar!