segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Moçambique = Testemunho, no CORAÇÃO DA GUERRA

Sporting Clube de Portugal = Tenham um pingo de vergonha
blogue = riodouroniassa.blogspot.com


Transcrevo com a devida vênia a Manuel Bento o seu testemunho de Guerra em Moçambique
Disseram à minha familia que eu tinha morrido.
Fui internado  no Hospital de Nampula.
Estava tão mal tratado que mandaram um telegrama a participar a minha morte à minha familia. Saíu até num Jornal.
Manuel Bento Comissão em Moçambique 1966/1967.
Desembarcamos a 4 de Fevereiro em Mocimboa da Paria e no dia seguinte chegamos a Mueda, ao coração da guerra. Ficamos no acampamento em Muidumb - os colchões eram papelão, lavavamo-nos num chuveiro improvisado a partir de um bidão de 50 litros, pendurado numa árvore.
A água bem - essencial, estava em zona de difícil acesso, onde o inimigo montava constantes emboscadas.
Para podermos descer ao vale lançavam-se granadas de morteiro ou cargas de artilharia e montavam -se grupos de segurança na picada.
O reabastecimento à companhia era feito em Mueda, a 40 quilómetros de distância, o inimigo estava sempre à espreita.
Numa emboscada próxima de Mide, a Frelimo utilizou armas automáticas e bazucas. Perdemos colegas e tivemos uma grande quantidade de feridos.
Eu conduzia uma daquelas viaruras. Fui projectado e perdi a memória.
Fui evacuado para Mueda e depois para o Hospital Militar 125 em Nampula.
Devido à gravidade dos ferimentos, o médico de serviço queria amputar-me a mão. Eu não autorizei.
Fiquei mal tratado e a minha familia foi informada via telegrama 7 de Março de 1966, da minha morte, saíndo até no "Diário de Notícias".
Passado um mês receberam novo telegrama que dizia que eu não tinha falecido, mas que me encontrava gravemente ferido em Nampula.
A guerra deixou-me marcas, principalmente nos primeiros anos de vida civil.
Qualquer ruído me perturbava.
Voltei a Moçambique em 2004.
Fomos aos locais onde tinhamos conhecido.
Em Mueda estivemos com antigos Comandos da  Frelimo
Companhia Cavalaria 1510.
Testemunhos como estes servem para mostrar que a guerra existiu e foi penosa para muitos.

2 comentários:

António Querido disse...

Mocimboa da Praia,Mueda, tive a sorte de não conhecer, naquele tempo, mas são nomes que nos fazia pôr os cabelos em pé, fui Marinheiro turista em Lourenço Marques, Metangula e Cobué,e sinto Raiva de quem obrigava os nossos irmãos a irem para uma guerra que para mim nunca fez sentido,agora alguns sofrendo os efeitos, são desprezados!

Valdemar disse...

Mais um exemplo a ficar na prateleira.