Só se morre, quando se deixa de estar no coração de alguém.
Os Mortos. Honram-se
Homenageando os que morreram no trágico acidente e os que sobreviverem, presentes na foto.
Agradeço ao Marinheiro Fuzileiro Agostinho Teixeira Verde, , a disponbilidade de aceder a pedido meu, para que escrevesse em versos no prpósito de homenagear a mémória de todos quantos se viram envolvidos naquele trágico acontecimento, ocorrido por culpa de altas patentes. Os Mortos. Honram-se
Homenageando os que morreram no trágico acidente e os que sobreviverem, presentes na foto.
Jamais alguém foi responsabilizado pela ordem de embarque dos citados militares e respectivas viaturas, que terão sido a principal causa do naufrágio.
Com um total desprrezo pelos sobreviventes, nunca tendo os sobreviventes uma simples recomendação na caderneta e o recebimento dos valores pessoais perdidos.
Tragédia no Rio Zambeze
por
Agostinho Teixeira Verde
I
Tantas perdas humanas
De jovens em plena mocidade
Nas mãos lhe puseram armas
Incutindo-lhes mais virilidade
II
Oriundos de Portugal
Orgulho duma Nação
Submetidos ao ritual
Apurados na inspecção
III
Uns foram para a Marinha
Outros para a Aviação
Estes tiveram em linha
O Exército como função
IV
Na vida há sempre um destino
Para quem acredite ou não
Enquanto se é menino
Falta-nos alguma imaginação
V
Nos tempos que decorrem
Fala-se do infernal aborto
Para aqueles que morrem
Não há possível conforto
VI
Pese embora haver um Céu
Com S. Pedro a abrir a porta
Porém, existe um opaco véu
Que nos põe a vista torta
VII
Caminhando no escuro
À procura da sorte
Não encontramos escudo
Que nos evite a morte
VIII
Assim, tiveram estes mancebos
Uma contínua instrução
Embarcados sem enlevos
Para defender a Nação
IX
Como tantos outros militares
Atirados ao imberbe destino
Houve muitos milhares
Trilhando o mesmo caminho
X
Num clima tropical
Sem conhecerem a sina
Pé-ante-pé crucial
Para evitar uma mina
XI
Seguindo em plena fila
Ou mesmo em usada coluna
Militares a perderem a vida
Na roda traiçoeira da fortuna
XII
Pensando na família
Ou na ajuda de boa fada
Que os livrasse da quezília
Do infortúnio duma rajada
XIII
Doenças e infecções
Fome, sede e atropelos
Nervos de aço e aflições
E suor até aos cabelos
XIV
Tudo isso e muito mais
No conjunto de privações
Mal pagos ante seus rivais
Com pré de magros tostões
XV
Morrer em combate
Era esperado e normal
Sofrer enorme desgaste
E perder o seu ideal
XVI
Nesta vida havia de tudo um pouco
Sobressaltos a toda a hora
Que punham um jovem louco
Como criança que chora
XVII
Morrer por negligência
A bordo duma barcaça
Por falta de competência
Que provocou tal desgraça
XVIII
Como procurar a razão
De tal acidente voraz
Salvaram-se alguns então
Porque houve gente audaz
XIX
Carga excessiva, contudo
Mal acondicionada, talvez
Por quererem levar tudo
Aquilo de uma só vez
XX
Quando tal daria
Sem ousada altivez
Que se dividesse a quantia
Da carga em duas ou três
XXI
Apontar culpados e castigo
Pelo rocambolesco episódio
Certamente teria atingido
Para alguns, demasiado incómodo
XXII
Deita-se ao esquecimento
Ninguém ousa dizer nada
Como que nesse tormento
Ninguém sofresse nada
XXIII
O naufrágio é repugnante
O rio tudo engole depressa
Assim, num curto instante
Perecem os jovens promessa
XXIV
De um Portugal amordaçado
Que outrora fez heróis
E no rio, tanto militar é lançado
Para os jacarés, iscas sem anzóis
XXV
Tantos cemitérios improvisados
De terra, mas este é de água
Afogaram tantos malogrados
E com eles a eterna mágoa
XXVI
Que se estendeu aos seus amigos
Camaradas, pais e noivas
Aos irmãos sempre queridos
Contra essas guerras doidas
XXVII
Zambeze, rio velhinho
De cuja sepultura ocasional
Não tiveste a culpa sozinho
És cemitério de Portugal
XXVIII
Repousam no teu leito
Jovens, sonho de uma geração
Que de gritos, encheram o peito
Dando a vida pela Nação
XXIX
Nas terras de Moçambique
Fazem parte da nossa história
Sucumbiram sem esquife
Ninguém lhes prestou justa Glória
XXX
Não se ergueu um Padrão
Muito menos um Obelisco
Não se lhe dá a razão
Procedimento incaracterístico
XXXI
Percorrendo todo o nosso País
Vendo nos Mausoléus a gratidão
Existe sempre a mesma raiz
Para utilizar o galardão
XXXII
Honras sempre aos maiores
Os pequenos são fraca raia
Que sofrem amarguras piores
Até que um dia o véu caia
XXXIII
Vêem-se muito singelamente
Algumas placas alusivas
Que relembram a toda a gente
Os que perderam suas vidas
XXXIV
Estas, pelo esforço familiar
Ou contributo dos amigos
Quiseram seus nomes lapidar
Nas tumbas dos seus jazigos
XXXV
E, assim demonstraram
Que a amizade é um bem
Que eles próprios criaram
E hoje ainda assim se mantém
XXXVI
Esquecidos por alguns
Da nossa sociedade
Que não têm preitos nenhuns
E contrariam a verdade
XXXVII
Que imprimem promessa
Mas, sem seriedade
Fora com gente dessa
Cheia de cumplicidade
XXXVIII
E, dos governantes de então
Dos de hoje, também
Só têm lugar no Panteão
Os que pouco fizeram de bem
XXXIX
E, se continuar tal geração
Que poucos valores tem
Como poderá esta Nação
Manter profetas em Belém
XXXX
Que é gente pouco concisa
Egovernam sem vintém
Há que reduzi-los a cinza
E metê-los no Panteão. Ámen!
Grato reconhecimento ao filho da escola Agostinho Teixeira Verde
I
Cumpriram ordens de incompetentes,
Mais de uma centena morreram afogados
Como os mortos eram de baixas patentes
Nunca houve ninguém responsabilizado.
II
A meia centena que se salvaram
Nem uma mensão a os reconhecer
Se calhar nunca lhes perdoaram,
o crime de não se deixarem morrer.
III
Sempre com suas vidas amarguradas,
Vivendo com seus corações destroçados
Relembrando sempre os seus camaradas
Que no Zambeze, 101 morreram afogados.
IV
Esta semente que ainda anda por cá,
semente de pessoas com tal pobreza,
será descendente de gente tão má
que desprestigia a pátria portuguesa
1 comentário:
Até se fica sem fôlego ao ler esta prosa de uma só vez,gostei e dou os parabéns, aos Amigos Verde e Valdemar, em especial por lembrarem estas vitimas, muitos dos quais os seus corpos nunca foram encontrados para que lhes fosse feito o funeral a que qualquer ser humano tem direito.
Um abraço
Virgilio
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