O Carlos Tintinaine sentado do lado esquerdo, o Agostinho Verde do lado direito O Marinheiro Radarista remando para a atracação.
Verde no Restaurante em Rio Mau, após o repasto meditando, com uma janela para o Rio Douro
Dois Fuzileiros à "Deriva no Rio Douro"
Autor:- Agostinho Teixeira VerdeDois Fuzileiros à “deriva” no Rio Douro! No Dia 22 de Junho, logo pela manhã, rumaram a Cancelos, Sebolido, Penafiel para visitar o amigo Valdemar Marinheiro e outros amigos que ele, de antemão foi convidando para conseguirmos pôr a conversa em dia… de muitos casos e assuntos que evito aqui enumerar. Com encontro marcado no Intermarchê de Penafiel, ali esperava o Verde, que vive em Lousada pelo Carlos que vinha da Póvoa de Varzim. Por volta das nove horas, atravessamos o lado Oeste da cidade rumando às Termas de S. Vicente, Entre-os-Rios e, finalmente Sebolido onde, de braços abertos lá estava o Valdemar Marinheiro à nossa espera. Marinheiro, porque nasceu à beirinha do Rio Douro (margem direita) e Marinheiro também, porque em 1963, por sua livre vontade e uma grande paixão, foi incorporado na Armada ou, para melhor se entender, na Marinha de Guerra Portuguesa! Não é sobre isso que vou escrever, embora, muito naturalmente tivesse uma aceitação esperada, dado que o encontro proporcionou a “junção de um quarteto de Marinheiros”. A conversa entre pessoas da mesma “Escola” ou Faina (Marinha) é, sobremaneira mais perceptível do que entre pessoas que não tiveram a Escola de Marinhagem que nós “cursamos”. Voltando ao princípio, na viagem fomos apreciando a paisagem mui verde que se conserva lateralmente à estrada e que o Verão mal começado ainda não lhe deu o tom ou cor de amarelo ou seco que se notará mais para o fim do Estio…
Foto da Ponte após o trágico acidente que vitímou mas de meia centena de pessoas
Para justificar o injustificável, mandaram contruír duas
Uma delas muitos problemas resolveria se tivesse sido construída em Rio Mau/Pedorido
O Anjo edificado em Oliveira Reguenga /Sardoura/Castelo de Paiva
Nas pontes de Entre-os-Rios, deparámos com o Memorial do Anjo que parece tentar proteger ou redimir os malogrados que em Março de 2001, tombaram no trágico destino ao serem precipitados num Rio que é de Ouro mas que naquele fatídico dia se transformou num Rio de Fel, cuja amargura se propagou aos seus familiares e amigos, numa dor que ainda hoje perdura e, muito mais, porque, não foi possível para alguns, fazer-se um funeral com a dignidade própria, visto não terem aparecido… A vida neste mundo (?) reserva-nos surpresas demasiado tristes e amargas que nem o tempo na sua constante movimentação diária consegue diluir ou riscar da nossa memória com facilidade. Mais, porque, tantas vezes que por ali passei sobre a ponte, onde estava agoirado um fim muito negro que me poderia ter atingido naquele último “mergulho da vida”. O Douro, como é conhecido entre nós e também internacionalmente, não fossem os famosos vinhos que desciam nele até ao Porto, não merecia ser enlutado daquela forma tão cruel que impôs também o luto às suas gentes ribeirinhas, desgostosamente, por tamanha fatalidade. Aquela gente ama tanto o Rio Douro que não admite a mais pequenina ofensa ao Colosso Fluvial que espelha nos seus olhos a grande felicidade, logo pela matina quando miram as suas águas. Mesmo de noite o Rio é lindo! Nele reflectem as luzes das vivendas e moradias, além do luar, que lhe dão um encanto tão sublime que nos alimenta o pensamento e inebria a alma daquela presença inesquecível com que a natureza nos proporciona. As barragens deram-lhe outro feitiço encantador, originando que o seu caudal cubra os areais com o enorme manto ou lençol de águas fluviais. Porém, veio prejudicar a pesca. O peixe gosta de viver solto e não encurralado, quer subir e descer o Rio e conhecer todos os cantos, contornos e linguetas onde desova e descansa das longas caminhadas na procura do sustento. A navegação na época Estival é mais facilitada dada a grande aglomeração do seu caudal, onde, barcos de “porte e calado” muito significativos, percorrem o seu “estuário” num vai e vem diário, fazendo deslumbrar os turistas que gozam duma paisagem maravilhosa que a mãe natureza se dignou colocar ao seu dispor. Tivemos o condão, muito privilegiado, de almoçar num restaurante, tipo “Varanda para o Rio”, que, além do sabor gastronómico e opíparo da refeição, nos foi dado contemplar a faina de alguns pescadores, a sua navegação e, melhor ainda a brisa do Douro que nos proporcionou um bem-estar idílico de causar inveja a qualquer pessoa. As fotos que acompanham a prosa deste texto, são elucidativas da nossa presença nos Valboneiros ou Valboeiros (pequenos barcos a remos) e, também da inesquecível camaradagem que ainda vai unindo alguns portugueses, apesar da crise nacional, que se prezam de ser autênticos Reis e Senhores duma primordial hospitalidade. O carinho, a gentileza, a prontidão, a afabilidade e a educação aliada à frontalidade sadia daquelas gentes, deixam marcas que já mais esqueceremos e das quais guardaremos as melhores e mais valiosas recordações. Ao Valdemar, ao Cardoso, ao Cunha, ao Sérgio e outros e às mensagens do telemóvel que recebemos do Piko e outros, proporcionaram-nos o enorme prazer e alegria de conviver naquele dia numa harmonia e paz de amizade rica e duradoira. Expressamos com sinceridade e franca veemência o nosso melhor obrigado pelo vosso prestimoso acolhimento e carisma de saber receber e cativar!Um abraço, amigos!
Até sempre!
Agostinho Teixeira “Verde”
3 comentários:
Obrigado, amigo Valdemar
Pela montagem do belo cenário
As fotos ficaram de pasmar
Entremeadas no texto literário
Tu és um sonho de gente!
Como é rico o teu Blogue!?
Merecias outra patente
E, um título mui Nobre...
Na minha modesta apreciação
Usando de um tom sublime,
Fazes trabalho de perfeição
Dava para montar um filme
Pois é caro amigo Agostinho Verde a brincar vamos dizendo muitas verdades!
É impossível durante algumas horas ir buscar todos os temas e peripécias de um rio e suas gentes de várias gerações o que não é a mesma coisa que abordar pela "rama" um ponto aqui, outro acolá, embora já seja um bom começo!...
Intencional ou não, o Valdemar até teve a brilhante ideia de juntar de uma assentada alguns camaradas que passaram pela guerra colonial em Moçambique, mas foi mais longe, ao trazer ao grupo o amigo e conterrâneo Manuel Araújo Cunha, também um Duriense à altura e com obra editada sobre um rio e uma região digna de ser lida e acarinhada! Será justo não marginalizar o Manuel Cardoso e o Sérgio Correia, porque ambos à sua maneira são filhos da mesma zona e empenhados com as suas vidas e o seu esforço para que as aldeias, que os viram nascer e crescer se desenvolvessem com a dignidade que merecem! E não é só retórica de ocasião, porque as realidades falam por si e o Valdemar terá defeitos, mas, tem seguramente a grande virtude de nos ter vindo a contar, à sua maneira e com entusiasmo, estas realidades, que só muito depois, à boa maneira portuguesa, outros juntarão a sua voz para confirmar o que estava à frente dos seus narizes...
Tudo isto, para dizer o quê?...
Quando o nosso amigo Verde dá o mote para MONTAR UM FILME em tom de brincadeira, nós dizemo-lo com a convicção de que ARGUMENTOS não faltam e seria uma óptima mais valia, para uma região que um certo turismo já vai desbravando, mas que está ainda muito áquem do que a região merece...
Será que nós, que temos as nossas origens no Douro, vivemos um outro tipo de alucinações, mas que são a continuidade daquelas que os antigos pescadores iam repetindo até à exaustão, vividas, segundo eles, em noites de pescaria nocturna, tendo como únicos testemunhos as noites frias de invernos rigorosos, contando quase sempre com a proximidade de luzes artificiais dispersas, aqui e mais além, que eram o único sinal, que lhes dava garantias que não estavam sós, mas, que podia muito bem ser de colegas de profissão e na pior das hipóteses, algum daqueles horríveis fantasmas, que enchiam o imaginário daquelas boas criaturas?!...
Isto de morar sobre os rios até aos vinte anos, fomenta dentro de nós um conjunto de sentimentos, o Valdemar chama-lhe paixão e talvez seja mais acertado, que nunca nos irão "largar de mão", um termo muito utilizado aqui nesta zona da Beira Litoral e de que gosto particularmente! Por sua vez, a distância completa a DOENÇA, mas que nenhuma medicina vai curar, de resto é uma DOENÇA BENIGNA e tem um nome simples e português já muito antigo: SAUDADE!
PIKÓ
Claro que me sinto bem
Quando comento um artigo
Ao partilhar com alguém
Que corrobora comigo
Se a gratidão, merece palmas
Que delas, sempre abdico
Sucede isso em duas almas
As do Verde e do Piko...
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