No ser humano há sempre pequenos defeitos.
Com bola ou talvez não.
Sócio do Benfica aos 8 anos de idade.
Nasci pobre, na Azinhaga.Tinha dois anos quando meu pai, que fora jornaleiro, entrou para a policia.
Foi a familia para Lisboa, habitar quartos de aluguer, o ordenado não dava para mais. Sonhei com uma bola de Cautchu igual à de um menino do bairro que eu pontapeava na rua descalço para não estragar o meu único par de sapatos, não ma podiam dar. Depois mais desafogado, pelos oito anos de idade, meu pai fez-me sócio do Benfica. Era encarnado ferrenho, garboso levava-me pela mão às Amoreiras para o famoso peão de terceiro mundo. Fui serralheiro para oficina, à noite afundava-me em livros numa biblioteca pública. Entrei por outros caminhos, desviei-me dos estádios.
No futebol o jogador tinha um clube e o clube e o jogador estavam pregados um ao outro, a camisola era quase outra bandeira sagrada.
Quando passou de desporto a negócio, violento, desencantou-me...
Joguei muito ténis quando vivi na Parede. Jamais deixei de nadar.
Tornei-me espectador de estar confortavelmente sentado à frente da TV. Gostando de ver umas modalidades bem, menos que outras.O Salto em comprimento aborrecia-me por ser excessivamente repetitivo-corridas apreciava imenso, só não as tácticas em que, como na vida, se deixa a resolução para a última volta e se fica com vontade de perguntar para que é que se correram afinal as outras todas anteriores.
Criei a mais bela imagem da minha literatura no cão que bebe as lágrimas à mulher desesperado do Ensaio Sobre a Cegueira e ao receber o Nobel disses, que se tivesse de atribuír Nobel a um desportista o atribuiria à Manuela Machado.
Sempre encontrei na sua competição com as outras a luta leal que ela tinha consigo própria, a mulher-a-dias que parou campeã do Mundo.
Talvez por me sentir um maratonista também-pois se tivesse morrido aos sessenta anos, não teria ganho nada do que ganhei.
O Nobel nunca foi o objectivo, objectivo foi sempre o livro seguinte, sem saber até onde me levaria.
Levaram-me a esta eternidade de onde, agora, vos falo na intermitência da morte...
A minha forma de recordar o que Saramago disse sobre desporto.
Com a devida vênia a António Simões e Jornal a Bola 24/6/10
1 comentário:
Saramago, que teve uma vida longa e cheia de peripécias, para lá dos livros que nos deixou e que de alguma forma reflectem a sua imaginação e sobretudo as suas preocupações!...
Tinha uma queda natural para desenvolver raciocínios, mas tinha preocupações em buscar temas que ajudassem os leitores a reflectir e tinha objectivos bem definidos... Daí os incómodos dos bem instalados na vida e nestes bem instalados estão as igrejas, que sentiam um grande desassossego, só porque Saramago tinha o "desplante" de fazer as suas interpretações da bíblia ( Velho e Novo Testamento ). Chegam a ser caricatas e até ridículas as posições do Osservatore Romano, quando no auge do desespero e na falta de bons argumentos, classifica o Nobel de "populista" e "extremista"... Estas posições de quem tem telhados de vidro, levar-nos-ia para outras considerações pouco simpáticas, mas convém aqui não divagar e focar o essencial de toda a polémica, quando os "bons" teólogos da igreja católica se refugiam no acessório, mas sem serem mestres!...
« Saramago leu e interpretou algumas passagens da bíblia no uso de um direito que lhe assiste enquanto ser humano e no caso, não são coincindentes com as interpretações dos doutores de Roma, mas que nós saibamos as demais religiões cristãs também têm interpretações que não coincindem com a religião católica e daí terem avançado para novas religiões e não serão tão poucas como isso!... Posto isto, aqui deixamos o repto ao Vaticano e ao Osservatore Romano:
- De que têm medo para vir a terreiro e intitular todas as outras religiões cristãs de populistas, extremistas e de práticas anti-religiosas? Se até se anteciparam a Saramago nas suas divergências com o Vaticano, não vemos porque são poupadas no azedume...
Quem nos pode garantir, que tem as interpretações mais fidedignas:- Será alguma das igrejas cristãs?
Será o catolicismo? Será o judaísmo? Será Saramago? Será alguém que ainda não nasceu?...
Afinal, quem é polémico? Se Saramago pode ser apelidado de produzir assuntos polémicos, qualquer ser humano tem igual direito de concluir que todos os demais estarão a ser polémicos, e, para concluir, gostaríamos de terminar assim:
- A ARROGÂNCIA é a arma dos fracos e a HUMILDADE é a arma dos inteligentes! Se tivermos que escolher apostaremos uma vida inteira na segunda escolha e de olhos fechados...
PIKÓ
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